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Coluna do Metzker: Futebol Multinacional

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A França ganhou a Copa do Mundo, mas quem deveria sentir orgulho seriam os países africanos, já que nove dos jogadores “franceses” nasceram naquele continente, sendo sete na chamada África negra e dois na África saariana, especificamente no Marrocos e na Tunísia.


Márcio Metzker


Três dos convocados vieram das ilhas Guadalupe e Martinica, no Caribe. Um veio das Filipinas e outro é espanhol. Ou seja, a França participou do Mundial com uma seleção multinacional formada por 8 franceses e 15 jogadores de 13 nacionalidades diferentes. Já havia feito isso em copas anteriores, mas desta vez isso chamou mais atenção por ter saído vitoriosa.

Várias seleções tiveram jogadores naturalizados, como a própria Rússia, que tinha o lateral brasileiro Mário Fernandes; a Espanha, onde brilhou o artilheiro sergipano Diego Costa; e a Bélgica, carrasca do Brasil, com o marroquino Fellaini e o gigantesco atacante congolês Lukaku. Há quem defenda que os convocados para honrar as cores de seu país nas copas do mundo representem as parcelas étnicas da população, como acontece com os japoneses, os brasileiros, os mexicanos, os argentinos, os espanhóis e os selecionados dos países nórdicos.

Os extraordinários atletas negros que lutaram pelos “bleus” deram a impressão de que a França — que jamais teve escravos africanos na formação de seu povo — seria um país com maioria negra. Pode-se argumentar que as seleções de basquete dos Estados Unidos têm maioria de negros, mas ninguém pode negar que são descendentes de uma longa linhagem trazida à força para o território americano. Os franceses têm um elogiável programa de acolhimento de refugiados do mundo inteiro, e daí vieram os excepcionais jogadores negros de sua seleção.

É claro que os técnicos lançam mão do que há de melhor no plantel a sua disposição, mas grande parte da Legião Estrangeira que a França convocou e deu dupla nacionalidade sequer joga no país. São astros em grandes times da Europa e Ásia. A dedicação ao futebol, para os refugiados pobres que chegam à Europa, é a grande chance de ascensão social, porque, no esporte e na guerra, não há preconceito racial que se sobreponha ao talento e à coragem. Que o diga o atleta negro americano Jesse Owens, estrela das Olimpíadas de Berlim em 1938, que se encheu de medalhas humilhando a hegemonia ariana de Hitler. Mas antigamente havia muito preconceito e complexo de vira-lata na América Latina. A Comissão Técnica da Seleção Brasileira que ganhou a Copa de 1958 na Suécia se envergonhava de escalar negros e mulatos, considerando-os inferiores, até que Pelé e Garrincha golearam os adversários e fizeram o técnico Feola engolir o insulto.

A França sempre lançou moda. Se esta moda pegar, os Estados Unidos podem usar sua riqueza para montar uma seleção só de craques estrangeiros naturalizados e saciar sua sede de triunfos no futebol. Nada impede, por outro lado, que jogadores milionários como Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi resolvam comprar um país como Andorra ou Liechtenstein só para se naturalizarem, junto a outros talentos, e passar a ganhar os mundiais com seleções multinacionais. Aí as competições da Copa do Mundo deixariam de ser alegorias de batalhas patrióticas nos gramados dos estádios para se tornarem uma exibição de talentos mercenários de todo o planeta.

Márcio Metzker, jornalista, vive em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil


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Escrito por: África 21 Digital

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