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Banco Central de Cabo Verde desaconselha adesão à moeda única da Cedeao

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O governador do Banco de Cabo Verde (BCV, central), João Serra, desencorajou a adesão do país à moeda única da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) face aos benefícios que o arquipélago já retira do regime de paridade fixa do escudo cabo-verdiano com o euro, em vigor há 20 anos.


África 21 Digital com Panapress



João Serra falava aos jornalistas, sexta-feira (140, na Cidade da Praia, depois da abertura da Conferência Internacional comemorativa dos 20 anos da assinatura do Acordo de Cooperação Cambial entre Portugal e Cabo Verde.

Ele salientou que o arquipélago cabo-verdiano “não tem vantagem em alterar o seu regime cambial”.

“Eu acho que tendo Cabo Verde uma moeda credível, que cumpre com as funções fundamentais de uma moeda, reserva de valor, meio de troca, que inspira confiança e permitiu ao país dar o salto que deu, não precisa alterar o seu regime cambial”, precisou.

João Serra argumentou ainda que, tendo em conta as caraterísticas da economia cabo-verdiana, virada quase que exclusivamente para a Europa, o país não terá também vantagem com a sua adesão à moeda única oeste-africana.

“Noventa porcento das nossas importações vêm da Europa, 90 porcento das nossas exportações vai para a Europa e 90 porcento das remessas dos nossas emigrantes vêm da Europa”, salientou o governador do banco central cabo-verdiano.

Recordou que também  “90 porcento dos investimentos externos vem da Europa pelo que Cabo Verde não tem vantagens, pelo menos a curto e médio prazo, em alterar o seu regime cambial, ou seja o peg fixo do escudo face ao euro”, explicou.

“Nós quase não temos relações económicas com África: quer com a Cedeao, quer com África no seu todo. Portanto nós defendemos que, do ponto de vista técnico, a adesão de Cabo Verde à moeda única da Cedeao não vale a pena, não trará benefícios que eventualmente pudessem suplantar os benefícios que temos agora com o regime fixo face ao euro”, precisou.

João Serra esclareceu também que a “eurorização” da moeda cabo-verdiana, isto é, a substituição do escudo cabo-verdiano pelo euro, é também uma questão que não está sobre a mesa.

“O que está a acontecer é a circulação em paralelo do escudo cabo-verdiano com outras moedas, desde que sejam aceites. De modo que não é o mesmo que a eurorização que é quando o Estado abdica da sua própria moeda e adota a moeda de um outro país”, sustentou.

Indicou que, com a aprovação da lei da liberalização de movimentos de capitais, a dupla circulação informal deixou de ser um ilícito contraordenacional.

Por sua vez, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, considera que o Acordo de Cooperação Cambial e a paridade fixa do escudo com o euro “são exemplos de uma âncora que reforçou a credibilidade e a confiança na economia cabo-verdiana”.

O chefe do Governo referiu que tal acordo ajudou também a reforçar a estabilidade macroeconómica do país.

Segundo ele, Cabo Verde pretende atingir, de uma forma ambiciosa, “a quase integração económica”  com a União Europeia (UE).

“Não dizemos integração económica porque não somos um país da UE, mas dizemos quase integração económica alicerçada na estabilidade cambial e na estabilidade orçamental, na eliminação de barreiras administrativas à livre circulação de capitais, na livre circulação de mercadorias, na eliminação de barreiras à livre circulação de pessoas, na promoção e proteção recíprocas de investimentos”, destacou Correia e Silva.

De acordo ainda com ele, esta “quase integração” perspetiva também a cooperação científica e tecnológica e a qualificação de recursos humanos, a gestão de ricos ambientais e de choques externos, cooperação para a paz e segurança e o reforço das relações com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

No entanto, ele realçou que esta opção não exclui e não entra em confronto com a integração de Cabo Verde à Cedeao.

Isto porque, lembrou, “o posicionamento do país como uma plataforma de circulação económica no Atlântico Médio só é viável se interligar os mercados africano, europeu, asiático e americano e aproveitando a sua localização e a estabilidade e as vantagens políticas e económicas da Cedeao.”

No seu entender, o país tem de facto condições para ser uma plataforma, mas para isso é preciso reformas a vários níveis e que o Governo tem estado a desenvolver com a convicção de que o compromisso “não é manter o país no estado de sobrevivência”, mas fazê-lo entrar no “estado de país sustentável.”


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Escrito por: África 21 Digital

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