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Futuro adiado, mais uma vez…

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Três semanas depois de ter tomado posse, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, embarcou na noite de domingo no jato da Força Aérea rumo a Davos, na Suíça. Algumas das figuras mais apresentáveis do seu governo, acompanham-no na missão de marketing político junto de grandes investidores, banqueiros, políticos e, por último, mas não menos importante, junto dos jornalistas que acompanham a 39. Edição do Fórum de Davos, o conclave dos figurões, donos de quase tudo, à escala planetária.


Na gélida cidade suíça, onde não faltará o chocolatinho quente, mas também, é claro, as trufas, o whisky e o bom conhaque,  lá estarão, na comitiva brasileira, entre outros, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, até há bem pouco tempo o prestigiado juiz responsável pelos processos da Lava Jato, de combate à grande corrupção. Um, o Guedes, para falar das promessas de grandes reformas neoliberais com que conquistou o coração de Bolsonaro; o outro, Moro, para falar, com o tom austero que lhe é peculiar, do combate à corrupção e à criminalidade.

Quem não perderia por nada do mundo a ida a Davos? O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do pai-presidente. Bolsonaro-filho já leva assunto estudado: irá falar sobre a imigração venezuelana no estado de Roraima.

Ao presidente caberá falar das pequenas, médias e grandes generalidades. Coisas boas para os ouvidos sensíveis de investidores e banqueiros. Promessas de reformas, de redução da dívida pública, menos Estado, menos Estado, menos Estado – o refrão neoliberal que querem impor.

Alguns dirão que, afinal, Bolsonaro, ao avançar por esse caminho mais não faz que levar adiante o que prometeu na campanha eleitoral. Esquecem-se, no entanto, é que grande parte dos que acreditaram no “mito”, no “messias” libertador, no pregador de discursos fomentadores de ódios às esquerdas, aos que se dão à liberdade de terem esta ou aquela ideologia, querem o contrário: isto é, uma economia aberta, mas regulada, um Estado interveniente, eficiente, e expurgado da corrupção. Querem saúde pública com qualidade, querem ensino público com qualidade, querem segurança pública eficaz, mas não criminosa. Querem juízes comprometidos com a lei. Não querem cidadãos de arma em punho.

Ora, o governo que Bolsonaro conseguiu formar está muito longe de tudo isso. Na sua essência é um governo de representantes de grupos das elites que sempre impuseram as suas vontades ao Brasil e que, hoje, como sempre o fizeram, invocam a pátria, o amor à nação, o interesse nacional. Representantes dos grandes fazendeiros, amigos da banca, generais saudosos do antigamente, construtoras de visões milagrosas, amantes do obscurantismo. Um ou outro talvez crente numa missão divina. O ministro Onyx Lorenzoni, um dos mais importantes da equipe governamental, diz e escreve que ele próprio e Bolsonaro são “instrumentos de Deus”. Não se expressava de forma diferente Torquemada, na distante ( ou não tanto…) Idade Média quando enviava à fogueira os ímpios judeus ou, simplesmente, os adversários.

Três semanas depois de subir a rampa do Planalto, o presidente Bolsonaro, imbuído de fé reformista, continua a distinguir-nos com os seus posts nas redes sociais, que alternam entre anúncios de medidas governamentais ou declarações de intenção pela manhã e desmentidos pela tarde. Entre auto-elogios e sibilinas ameaças aos que não comungam das suas ideias. Entre manifestações de oferta de bases militares dos Estados Unidos em território brasileiro e, no dia seguinte, enfática negação decidida pelos comandos militares. Ou seja, uma trapalhada que deixa em apuros os mais leais bolsonaristas.

Por tudo isto e o que se pode antever, nas mais diversas áreas, há sérias razões para admitir que o Brasil continuará, por um bom tempo, com o “futuro adiado”. Democraticamente adiado. O governo Bolsonaro não precisa recear as esquerdas ou movimentos progressistas, que, aliás, continuam amarrados a fantasmas e enredados em contradições, ainda incapazes de se renovarem e reunirem vontades. Por enquanto, o principal adversário do governo Bolsonaro é ele próprio, “o coiso”.


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Escrito por: África 21 Digital

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