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Portugal: Pressionado pela opinião pública e com eleições à porta, Eduardo Cabrita deixa o Governo

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O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, demitiu-se hoje, na sequência da acusação de homicídio por negligência do Ministério Público ao seu motorista pelo atropelamento mortal de um trabalhador da autoestrada A6, em junho deste ano. Ainda hoje, o ministro, do governo António Costa, em declarações a jornalistas eximiu-se de qualquer responsabilidade no acidente fatal. De acordo com o Ministério Público, o veículo ao serviço do ministro circulava em excesso de velocidade. Cabrita disse ser apenas um passageiro.


África 21 Digital com Lusa



Numa declaração aos jornalistas, em Lisboa, onde fez um balanço do seu mandato, Eduardo Cabrita referiu-se ao acidente que provocou a morte de um trabalhador na autoestrada dizendo que “mais do que ninguém” lamenta “essa trágica perda irreparável” e deixou críticas ao “aproveitamento político que foi feito de uma tragédia pessoal”, algo que disse ter observado “com estupefação”.

“É por isso que hoje não posso permitir que este aproveitamento político absolutamente intolerável seja utilizado no atual quadro para penalizar a ação do Governo, contra o primeiro-ministro, ou mesmo contra o PS. Por isso entendi solicitar a exoneração hoje das minhas funções de ministro da Administração Interna ao senhor primeiro-ministro”, disse o ministro demissionário.

Em anterior declaração, o ministro agora demissionário eximiu-se de qualquer responsabilidade, afirmando que era apenas um passageiro. Perante a repercussão política e social, Eduardo Cabrita apresentou o pedido de exoneração ao primeiro-ministro António Costa, do Partido Socialista.

Costa anunciou ter aceitado o pedido de demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna e que “nos próximos dias” indicará o nome do sucessor.

António Costa, que falava no Porto à margem de um evento empresarial, disse ter já informado o Presidente da República da demissão.

Cabrita esteve envolvido anteriormente em diversas polémicas, entre elas o espancamento e homicídio de um cidadão ucraniano em instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no aeroporto de Lisboa. Após o crime, o ministro, que tutelava o SEF, entre outras forças policiais, eximiu-se em assumir qualquer responsabilidade política, no que contou com o apoio do primeiro-ministro António Costa.

Eduardo Cabrita, um dos “barões” do aparelho do PS

Eduardo Cabrita tomou posse como ministro da Administração Interna em 21 de outubro de 2017, substituindo Constança Urbano de Sousa, que se demitiu do cargo após os trágicos incêndios de 2017, e, em outubro de 2019, foi reconduzido depois das eleições legislativas.

Quando chegou ao Ministério da Administração Interna tinha como grande missão alterar e melhorar o sistema de combate aos incêndios rurais, depois dos fogos de 2017 que causaram milhares de prejuízos e provocaram mais de 100 mortos, mas o seu mandato foi marcado por várias controversias.

Depois das falhas apontadas à rede de comunicações do Estado durante os incêndios de 2017, Cabrita foi responsável pelas várias alterações ao SIRESP, que passou a estar dotada com mais 451 antenas satélite e 18 unidades de redundância, mas foram várias as vozes críticas à forma como tem gerido o processo.

Durante os cinco anos que esteve à frente do Ministério da Administração Interna, Cabrita foi alvo de contestação, nomeadamente dos sindicatos da PSP e das associações socioprofissionais da GNR, sendo a mais recente a atribuição do subsídio de risco.

Eduardo Cabrita também ficará conhecido como o ministro da Administração que iniciou a reforma que vai levar à extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), uma reestruturação alvo de críticas.

A extinção do SEF foi, entretanto, adiada por seis meses, para maio de 2022, com a aprovação Assembleia da República de um projeto de lei apresentado pelo PS que justificou o adiamento com a pandemia de covid-19.

A reforma do SEF constava do programa do Governo, mas só foi lançada depois da tortura e homicídio, em março de 2020, de um cidadão ucraniano nas instalações do SEF no aeroporto de Lisboa. Durante várias semanas, o ministro procurou minimizar o escândalo, que envolveu diretamente várias inspetores do SEF, e que teve repercussão internacional.

Os festejos, em maio de 2021, do Sporting como campeão nacional de futebol e a forma como lidou com o acidente em que esteve envolvida a viatura em que seguia e que resultou no atropelamento mortal na A6 f marcaram os cinco anos em que Eduardo Cabrita esteve à frente do MAI.

Licenciado em direito, Eduardo Cabrita nasceu no Barreiro em 1961 e antes de chegar ao MAI já tinha desempenhado, entre 2015 e 2017,  funções governativas em outros executivos socialistas.

Foi secretário de Estado adjunto quando o atual primeiro-ministro António Costa exerceu o cargo de ministro da Justiça, no último Governo liderado por António Guterres, tendo depois voltado a funções no governo liderado por José Sócrates, como secretário de Estado da Administração Local.

Membro da Comissão Política Nacional do Partido Socialista, Eduardo Cabrita foi deputado do PS nas IX, XI e XII legislaturas, entre 2002 e 2005 e entre 2009 e 2015, tendo integrado a Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e a Comissão de Defesa Nacional.

No XIII Governo, Eduardo Cabrita desempenhou também o cargo de alto-comissário da Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território.

Entre 2011 e 2015, Eduardo Cabrita presidiu à Comissão de Orçamento e Finanças e Administração Pública e, numa das reuniões da mesma comissão parlamentar, enquanto presidia aos trabalhos, protagonizou um episódio juntamente com então secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, que invadiu as redes sociais e ficou conhecido como a “luta pelo microfone”.

Sentados lado a lado, os dois envolveram-se numa troca de argumentos que acabou com um “braço de ferro” por causa do microfone.

Reconhecido como um dos mais proeminentes dirigentes socialistas de Setúbal, círculo eleitoral por onde foi várias vezes eleito deputado nas listas do PS, Eduardo Cabrita foi também candidato a presidente da Federação Distrital do PS/Setúbal, em junho de 2012, mas não foi eleito, além de ter sido presidente da Assembleia Municipal do Barreiro entre 2002 e 2006.


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Escrito por: África 21 Digital

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