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A vitória de Costa, por Alfredo Prado

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A maioria absoluta conquistada pelo PS nas eleições legislativas em Portugal, no último domingo, parece ter surpreendido todos, desde os cientistas políticos, matemáticos ao serviço das empresas de sondagens, dirigentes políticos, da direita à esquerda, e ao próprio António Costa, que iniciou a campanha pedindo uma maioria absoluta, passando, dias depois, a deixar cair a difícil meta a que se tinha proposto.


Também eu, apologista de aproximações e entendimentos entre a esquerda e o centro-esquerda, neste caso o PS, fiquei surpreendido com o resultado, que, a meu ver, não reflete a mediocridade política da ação governativa nos últimos seis anos. Então, o que aconteceu?

Entre a possibilidade de um regresso da direita ao poder, do PSD à extrema-direita do Chega, dramatizada até à exaustão por Costa e também, em escala menor, pela esquerda, do PCP ao Bloco de Esquerda, passando pelo Livre, os cidadãos optaram por reforçar a votação ao centro, isto é, no Partido Socialista. Milhares de votos migraram do Bloco de Esquerda e do PCP para o PS. Resultado: venceu o voto útil. Os eleitores entenderam que comunistas e bloquistas, por vontade própria e por opção dos dirigentes socialistas, estavam arredados da grande disputa pelo governo.

O cidadão comum entendeu que o melhor seria escolher o caminho do ‘mal menor’. Entre a direita voltar ao poder ou dar continuidade ao centrista PS – sempre navegando entre agrados ao grande capital e a Bruxelas e ‘chamegos’ à esquerda, avançando de quando em quando com algumas pautas progressistas –  uma boa parte do país decidiu apostar em Costa. Uns, por convicção centrista e fé na social-democracia do PS; outros, para impedirem a direita de voltar ao poder, concentrando votos no PS. E foi assim que António Costa ganhou mais quatro anos de governo, agora beneficiado por expressiva votação e com mãos (quase) livres para formar governo e definir políticas.

Com o PCP  e o Bloco de Esquerda, os aliados de ontem, fragilizados por pesadas derrotas, que terão consequências na influência política de cada um deles e da esquerda, em geral – o que se poderá traduzir, a prazo, num défice democrático,  já que a sua atividade e visibilidade será prejudicada por substantiva queda no financiamento público, de que democraticamente usufruem, em função dos resultados eleitorais -, e o pequeno Livre procurando ganhar espaço na cena política, Portugal tem pela frente um novo ciclo político que, tal como aconteceu no domingo, poderá ser uma autêntica caixa de surpresas.

Mas, ainda que seja elevado o grau de imprevisibilidade, a formação do governo, que Costa deverá anunciar nos próximos dias, irá sinalizar o que nos espera nos próximos tempos. Se Costa optar por dar continuidade à equipa que manteve até hoje, politicamente medíocre, salvando algumas poucas exceções, colecionadora de erros e de escândalos, então o país verá agravados os problemas sociais e económicos que já enfrenta. Mas, Costa, com o amplo apoio eleitoral que recebeu e o fim da pandemia que os especialistas já vislumbram, também poderá optar por formar um governo inclusivo, apostado em mudanças, progressista, dialogante e disposto a combater a corrupção que mina a sociedade, o aparelho de Estado e o tecido empresarial. Uma possibilidade que, admito, só um alto grau de otimismo justifica.

A verdade é que, por estes agitados dias, dentro e fora de fronteiras, vivemos no domínio dos “ses”. Uma coisa me parece incontornável:  não é preciso ser vidente para prever que Costa, para enfrentar o avanço da direita e da extrema-direita, que tenderão a se entender, terá de contar com as forças de esquerda que, necessariamente, terão de se reorganizar e convergir, sob pena de se esgotarem, abrindo caminho a todos os populismos. E, afinal, como se tem visto por todo o lado, os eleitores também se enganam. Faz parte da dialética da vida e da história da humanidade. Vivemos tempos conturbados. E, afinal, a pandemia não acabou, como Costa, infetado pelo vírus, bem o sabe.


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Escrito por: África 21 Digital

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