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Opacidade e transparência

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No sábado passado comprei um jornal diário (o “Público”) por anunciar um destaque especial sobre vinhos brancos. O que fiquei a saber não teve a ver com o vinho branco, mas já lá vamos. No mesmo dia, o que já é habitual, comprei também o “Expresso” e também vi outra coisa, intrigante mas sugestiva.

No primeiro caso, foi um protesto ao abrigo da disposição legal do direito de resposta em que o autor do protesto se referia a um dos jornalistas que no “Público” escreve sobre vinhos como produtor de vinhos.

O jornalista é Pedro Garcias e, no suplemento a que me refiro, escreve em 9 páginas sobre vinhos brancos e em 2 a criticar o que designa como “enochatos” e que são, na generalidade, os autores de blogues e de notas de prova. Acontece que Pedro Garcias é produtor de vinhos em Vila Nova de Foz Côa (com vários brancos e tintos e a marca “Mapa”).

Não se pondo naturalmente em dúvida a competência do jornalista para escrever sobre vinhos (pois se até os saberá fazer), há uma dúvida óbvia: os vinhos sobre os quais escreve são concorrentes dos seus e os seus produtores são seus concorrentes directos. E outra, a propósito: será tão negativa, para o público em geral, para os enófilos e para os seus autores, a proliferação de outras opiniões, por pessoais que sejam, sobre vinhos? O que se vê nas publicações escritas são as notas de prova. O que se encontra por aí, pela internet, são opiniões mais directas. E, estando elas disponíveis on line, são óptimas para consultar. Só que elas… ameaçam a imprensa escrita? Ou será que o “Mapa” tem tido azar?

Mas a opacidade também se encontra no “Expresso”, onde pontifica desde há vários anos João Paulo Martins, enófilo com cátedra em várias publicações. E uma delas era, e a ela já me referi, a “Revista de Vinhos”.

Há poucos meses, a equipa da “Revista de Vinhos” foi desalojada e esta revista foi ocupada por quem fazia outra (“Wine”), entretanto fechada. E os que faziam a “Revista de Vinhos” foram fazer outra: “Vinho – Grandes Escolhas”.

Neste sábado, uma nota não assinada na “Revista do Expresso” faz de conta que quer ser imparcial e, referindo-se de passagem à “Revista de Vinhos”, elogia o “conhecimento de alguns dos melhores críticos de vinho da praça” e “o mérito de ter posto de pé um novo título no tempo recorde de dois meses”… da “Vinho – Grandes Escolhas”. A não assinatura da nota faz pensar que o “Expresso” está a tomar partido.

Como qualquer domínio jornalístico, e da vida pública, o domínio dos vinhos (até pela dimensão económica que já tem) precisa de mais transparência e de menos opacidade.

DIGESTIVO

E já que falamos em opacidade e em transparência, ainda há lugar para um caso interessante. Proliferam, sobretudo em “bag-in-box”, vinhos com a designação “de Pias” na marca, tipo “Poço de Pias”, “Lagares de Pias”, e por aí adiante, invocando uma região do Alentejo famosa pelos seus vinhos muito próprios (Pias, no concelho de Mértola, distrito de Beja). Mas se formos ver o código postal do produtor não é o “7830” da localidade de Pias mas sim o “2600” da Vala do Carregado, no concelho de Castanheira do Ribatejo (Vila Franca de Xira, a nordeste de Lisboa). Neste caso, a experiência que já tive recomenda que a designação geográfica não seja tomada à letra pela origem mas pelo destino que o vinho deve ter.

* Pedro Garcia Rosado é um escritor e tradutor português. Pode acompanhá-lo aqui: pedrogarciarosado.blogspot.pt


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Escrito por: África 21 Digital

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